O tema do momento na Europa e nos Estados Unidos é a indústria 4.0, envolvendo diversas empresas, universidades relevantes e governo para compreender este fenômeno e o seu impacto para o futuro da economia mundial. No entanto, você saberia o que é indústria 4.0 e a sua relevância para as empresas brasileiras?
Basicamente, toda evolução mundial associa-se à dinâmica industrial. Avaliando a história ao longo do tempo, os ganhos associados às máquinas a vapor, seguidos da produção com energia elétrica e, logo após, o advento da internet já poderiam ser classificados como revoluções industriais. Seguindo esta lógica, teríamos a indústria 1.0, 2.0 e 3.0, respectivamente. O que vemos, atualmente, é a união da capacidade produtiva com um mundo instrumentado, onde sensores e dispositivos móveis produzem dados. Um mundo interconectado através do avanço das tecnologias de comunicação, reduzindo as distâncias globais. Um mundo inteligente, que permite analisar grandes volumes de dados em tempo real, melhorando as tomadas de decisão, e um mundo cognitivo, onde qualquer equipamento será um sistema computacional inteligente que tem a capacidade de aprender e se adaptar conforme suas interações.
Uma outra tendência do mercado são os produtos individualizados, o que exige da cadeia produtiva a capacidade de se adaptar continuamente para produzir pequenas quantidades e produtos altamente customizáveis. Esse momento ímpar do mundo é o que podemos classificar de indústria 4.0.
O termo “indústria 4.0” foi utilizado pela primeira vez na Alemanha, a partir da integração dos processos produtivos industriais e sistemas computacionais avançados. Já é possível produzir um automóvel em uma linha automotiva com a utilização de máquinas, computadores, alta capacidade para análises de dados, solução de problemas e sem o advento de pessoas. O resultado é um brutal aumento de produtividade, redução de custos, ganhos de escala e eficiência.
No entanto, muitos são os analistas preocupados com o aumento do desemprego no mundo, dada a indústria 4.0. Estudos conduzidos pela prestigiada Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, indicam que haverá a necessidade de formação de mão de obra altamente capacitada, mesclando conhecimentos de gestão, engenharia e inovação, para esta nova revolução industrial, sendo traduzido na geração de mais de um milhão de novos empregos somente na Europa. Conforme dados divulgados pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos, “60% dos novos empregos que vão surgir no século XXI exigirão habilidades possuídas por apenas 20% da força de trabalho atual”. Provavelmente, o mouse e a interação homem-máquina através de voz serão mais usuais no dia-a-dia do que a conhecida chave de fenda.
Logo, termos como Internet das Coisas, Cyber-Physical Systems, Big-Data e Computação Cognitiva deveriam estar na agenda dos executivos em todo o mundo, principalmente no Brasil, uma país notadamente com características industriais. No entanto, um recente estudo conduzido pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, em parceria com a Siemens, identificou limitações para o avanço da indústria 4.0 no Brasil, destacando uma cultura de gestão focada no curto prazo, baixa expectativa de investimentos em inovação e dificuldade para formação de novos talentos.
Para um país como o Brasil, que vem gradualmente perdendo posições nos rankings mundiais de competitividade, graças à baixa sofisticação das suas empresas quando comparadas aos países desenvolvidos e à redução constante dos investimentos em inovação, será vital compreender os avanços tecnológicos atuais, como aqueles realizados em outros países, citando a Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Inglaterra.
A corrida por uma nova revolução industrial já foi iniciada. Para alcançarmos a vitória, será fundamental repensar a qualidade da nossa mão de obra, o montante dos investimentos em inovação, as estruturas de gestão das empresas, e aumentar a produtividade. Finalmente, associar a capacidade de produção às novas tecnologias e modelos de negócios nascentes será importante para a sobrevivência em um curto espaço de tempo. Do contrário, “no longo prazo, estaremos todos mortos”, como já dizia Keynes, economista britânico.
Texto de
Hugo Ferreira Braga Tadeu, professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral, e Luís Fernando Liguori, chief technology officer da IBM Brasil – Fonte: http://www.fdc.org.br/